Resenha: 25 boleros entre sambas
Almas de fino trato
Certos, certíssimos corações batem entre sambas e boleros. É o caso do poeta Waldemar Euzébio Pereira, que lançou 25 boleros entre sambas. Trata-se de uma belíssima e luxuosa edição que mistura fotos e textos de uma delicadeza fina, sutil como só pode ser sutil as coisas leves e mais que luminosas.
Todo episódio é novo, quando a vida entrecruzada de harmonias. Instrumentista, poeta, Waldemar lançou também Prosoema, Do cinza ao negro e Achados, onde mostra sua verve de contista. Em 25 boleros entre sambas os textos dançam e dialogam com as fotografias de Jorge Quintão, num encontro de almas de fino trato.
Como disse Eduardo de Assis Duarte, na apresentação: “Assim irmanados, os poemas-boleros-sambas de Waldemar Euzébio Pereira se imbricam a formas e cores para edificar um belo hino ao amor.” Nada mais certeiro.
O que guarda cada palavra? Brilho de sóis, o olhar – malicioso – da mulher amada, carrosséis, girassóis, seios, alhos e bugalhos. Tudo isso e mais um tanto, nesse bailado, nesse baião-de-dois que remete ao melhor dos mundos.
Waldermar sabe como poucos que a natureza exposta exige e pede para ser vista. Abundante de luz, o dia corrobora os sentidos. Os múltiplos sentidos de cada hora do dia. As palavras carícia e afeto (des)orientam cada cisco, cada acorde. Waldemar sabe brincar com as palavras no corpo da poesia, fazendo da polissemia uma arma para ampliar os sentidos de cada verso. Fica a pergunta, pairando: quantas vezes o infinito se repete?
Tudo ao mesmo tempo agora. Música, poesia, imagens que se tocam, que dialogam numa dança que não tem fim. Acordes que se entranham nos signos, imagens que elucidam o mistério da luz, do verde de uma folha, o amarelo emaranhado ao sol, o argênteo abraçado à lua. O poeta capta, escreve e canta. O leitor, comovido, agradece.
André Di Bernardi – Jornalista, poeta, autor de seis livros