25 Boleros entre Sambas
Desde os tempos em que os deuses nasciam das vontades humanas, música, poesia e artes visuais se aproximam e trocam experiências. Ocioso indagar qual terá surgido primeiro, se a nota ou a sílaba, a melodia ou o verso, a letra ou o traço. Desde os primeiros hinos e encômios, muitas vêm sendo as trilhas seguidas por uma e outra, e muitas as encruzilhadas: momentos em que podem apenas ensaiar um cumprimento e seguir adiante ou dar as mãos e dialogar rumo a novos caminhos.
Em 25 boleros entre sambas, o criador inventivo que estreia em Prosoema dando asas à experimentação, se junta ao poeta cioso de sua arte presente em Do cinza ao negro, ao contista maduro que encontramos em Achados e, também, ao instrumentista talentoso e ao compositor de apreciado repertório. Todos estão presentes, a se somarem num Waldemar Euzébio Pereira ainda maior: artista de voz e letra, mas agora também de verso e traço, texto e imagem, a jogar com palavras e cores, semeando-as no branco da página.
Nesse entrecruzar de experiências e linguagens ganha força a poesia, grávida de novos sentidos e valores. Em 25 boleros entre sambas, o poeta-músico se junta ao fotógrafo Jorge Quintão – artista da forma e da imagem como poesia. O resultado é uma elaborada construção intersemiótica em que a palavra parece flutuar e bailar perante os olhos do leitor. A poesia cresce no diálogo com a página que lhe dá suporte, traz a imagem para dentro si. A ilustração deixa de existir enquanto simples moldura para o verso, passando a integrá-lo na materialidade do texto.
E tudo isto para cantar o amor e o ser amado; a vida e a experiência de corpos e destinos compartilhados. A musa desses boleros é “arco de violinas notas” ao mesmo tempo que “pincel de recônditas curvas / exposta em tela”. Em sintonia com seu tempo, a poesia de Waldemar Euzébio ganha uma inédita dimensão sanguínea, vital, a ligar eros e boleros, num canto ao corpo e ao prazer que, no plano formal, leva a recantos inauditos das palavras. Figurações musicais e pictóricas são presença constante, ao lado de ritmos e cadências provindas da oralidade, a ecoar griots e trovadores, e a promover o entrelaçamento de um texto ao outro para além do ponto final. Assim irmanados, os poemas-boleros-sambas de Waldemar Euzébio Pereira se imbricam a formas e cores para edificar um belo hino ao amor.
Eduardo de Assis Duarte
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